PATRULHA MARIA DA PENHA: “ANJOS DE FARDA”

A Patrulha Maria da Penha (PMP), da Guarda Municipal de Duque de Caxias, foi criada em 2016 e foi a primeira a ser implantada no Estado do Rio de Janeiro, se tornando referência no município pelo excelente trabalho que vem desenvolvendo no combate a violência contra a mulher. A Patrulha recebe do Juizado de Violência Doméstica as mulheres que sofreram violência doméstica e receberam medida protetiva. O trabalho é dar proteção e prevenir que essas mulheres sejam agredidas novamente.
O sucesso no trabalho para diminuição e prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher incentivou outras cidades como Rio de Janeiro, Petrópolis, Volta Redonda, Rio das Ostras, Araruama e Macaé. Em nove anos, já foram realizadas mais de 49 mil atuações – o que dá uma média de 15 atendimentos diários – e acompanhamentos de cumprimento das medidas protetivas determinadas pela justiça. Atualmente há cerca de 1.300 mulheres sendo assistidas pela patrulha. As mulheres acompanhadas têm um canal exclusivo com a Guarda Municipal, ou seja, a cada ameaça elas podem entrar em contato com a GM e serão prontamente atendidas.
Após alguns anos de relação, Ingrid Fernanda Ferreira, 39 anos, viu sua vida mudar. O homem que era amigo de todos e muito acolhedor se revelou um abusador. “Minha história começou com ciúme, controle exacerbado, o não fala assim, você não precisa se arrumar assim e a gente vai achando que é normal, que era demonstração de amor. Eu perdi meu emprego porque trabalhava num setor onde tinham muitos homens. Ele me descredibilizava minha capacidade laboral dizendo que eu só subia de cargo porque era bonita e todos os homens me queriam. Eu perdi meu emprego e passe a depender também financeiramente”, contou.
De acordo com Ingrid ela foi abusada sexualmente várias vezes e, após a gravidez os abusos que antes eram psicológicos, passaram a ser físicos e o apoio esperado pela família não veio. “Venho de uma família muito tradicional, onde o casamento é muito importante. Quando eu falava isso pra minha família, eu ouvia: a mulher sábia edifica o seu lar. Sofri violência física, violência sexual várias vezes. Ele me violentou sexualmente na frente do meu filho, me mandando calar a boca. A imagem que tenho é do meu filho chamando mamãe, enquanto aquele homem estava em cima de mim. Quando eu conseguir ter coragem pra falar, contar pra minha família, eu já estava adoecida. Isso também foi um descrédito e ele falava que era muito remédio que eu estava tomando’, contou.
Para dar um basta nas agressões sofridas, Ingrid saiu pelas ruas com o filho no colo, grávida do segundo, pedindo por ajuda. Uma viatura da PM a levou para a casa de uma tia e, como as ameaças continuaram, ela ligou novamente para Polícia Militar e desta vez foi conduzida à Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM) onde a denúncia foi registrada, o caso conduzido ao Juizado de Violência Doméstica e Familiar e foi instaurada a medida protetiva de emergência e o acompanhamento da Patrulha Maria da Penha. Era o início de uma nova vida para Ingrid e os filhos.
“Quando eles chegaram no meu portão, eu achei que tinham ido me prender. Eu fui ouvida, acolhida e protegida. Eles foram e são meus anjos de farda. Com o apoio da Patrulha eu refiz a minha vida, me casei e eles estavam lá, porque fazem parte da minha vida e cada conquista compartilho com eles. E eu me tornei uma mulher sábia que edifica o lar, porque entendi que a sabedoria estava em outro lugar. A frase que um dia muito me magoou, hoje é alicerce porque ser sábia é ter coragem de escolher a própria vida, é escolher alguém que esteja ao meu lado e me respeite, respeite meus limites, os meus filhos, o que sinto, como sou, o meu direito de existir. Isso é ser sábia”.
Atualmente Ingrid faz um trabalho nas suas redes sociais para conscientizar e auxiliar mulheres que possam estar passando por situações e relações abusivas, está casada, estudando Psicanálise e segue sendo assistida pela Patrulha Maria da Penha. “Já conquistei algumas coisas no meu processo de cura e a Patrulha Maria da Penha é um degrau muito importante para essa conquista. Não existe na minha trajetória nenhum outro veículo do Estado, do Município que tenha sido tão humano quanto a Patrulha. Foi importante o acolhimento da DEAM o fórum ter me acolhido na questão judicial, mas na questão humana, eles foram a minha família, meus melhores amigos, foram as pessoas que falaram que eu conseguiria, que não estava sozinha e eu não me sinto sozinha. São meus anjos de farda. Todas as conquistas que tenho na vida, divido com eles. Eles fazem parte de mim’, frisou.
A Patrulha Maria da Penha de Duque de Caxias tem atualmente nove patrulheiros e dois agentes administrativos e faz uma média de 180 atendimentos mensais.